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Maturana e a simplicidade da vida

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Para o pensador francês La Rochefoucauld (1613-1680) existiam duas coisas para as quais nunca aprenderíamos a olhar de frente. Uma delas era a morte, a outra o sol. Depois de séculos e muita tecnologia já podemos olhar para o sol. Já para a morte...Ocorreu, recentemente (06/05/2021), a morte de um pensador marcante do século 20, o chileno Humberto Maturana Romesín (1928-2021). Foi o criador da proposição da Biologia-cultural que se desdobra em dois ramos da busca do entendimento do sentido do humano: a Biologia do amar e a Biologia do conhecer.

Humberto Maturana faleceu na sua casa em Santiago do Chile onde convalescia de uma pneumonia não decorrente da Covid-19. Maturana criou junto com a Dra. Ximena Dávila o Instituto MATRÍZTICO onde ministravam cursos sobre a transformação da sociedade e das organizações. Entre as várias proposições apresentadas por esse pensador quero destacar algumas que considero fundamentais para transformarmo-nos em seres humanos mais éticos, generosos e democráticos.

Maturana não apresentava ideias nem fazia críticas aos sistemas de ideias. Ele simplesmente nos convidava a refletir sobre o nosso modo de viver. Para ele, todos os animais eram seres do amor. Nós, humanos, somos especialmente amordependentes. E amor para Maturana não é algo da dimensão do transcendente ou do religioso, mas, sim, o fundamento que nos faz humanos. Amar é simples. É escutar, é acolher, é acariciar, é cuidar desde a ternura no viver. Afirmava que o amor, para ser amor, não pode fazer exigências e nem expectativas.

O amor é incondicional, ou, não é amor. Sempre que houver exigência ou expectativa isso é outra coisa, porém, uma coisa não é: amor. Amor para Maturana é a emoção que nos funda - e não a razão como insistem em nos ensinar. Amor é a emoção que dá origem ao social. Qualquer relação que não for orientada pelo amor não é uma relação social. Exemplo: toda relação orientada pela competição não é uma relação social. O motivo é simples. A competição é a negação do outro. Por quê? Porque ao competirmos não reconhecemos esse outro como um outro legítimo. Ao não reconhecermos sua legitimidade, não o respeitamos. Essa falta de respeito faz com que não deixemos esse outro aparecer.

Ao contrário do que comumente escutamos, não existe a tal competição sadia. Isso é um fato. E contra fato não há argumento. Assim como não somos seres da razão, também não somos seres da competição. Só chegamos aonde chegamos pela via da emoção. E de uma emoção em especial. A emoção do amor. Foram as emoções da cooperação, da aceitação mútua, do acolhimento, do respeito, do deixar o outro aparecer que nos fazem desde a origem biológica seres da cooperação. Isso é de uma simplicidade que chega doer. Não chegamos até aqui como espécie pela competição, mas, sim, pela cooperação.

Mas o que fazer então com tudo o que ensinaram e continuam ensinando para as crianças? Simples, basta olhar para uma criança e observar o que ela faz. Veremos que os bebês, as crianças pequenas, nunca competem. Elas começam a fazer isso na medida em que nós, adultos as ensinamos a dissimular, a parecer ser o que não somos, a competir. As crianças serão adultos muito parecidos com os adultos com os quais convivem. Elas aqui chegam e encontram o mundo que nós adultos lhes oferecemos. Se não podemos olhar de frente para a morte nada nos impede de olhar para o modo como estamos vivendo. Maturana dedicou sua vida a conversar sobre isso. Maturana agora voltou a sua origem: a simplicidade do cosmos. Obrigado por tê-lo conhecido e ao instituto MATRÍZTICO por ter me acolhido. Com certeza hoje sou um ser vivo melhor. Aprendi com Maturana e Ximena que somos o problema, o caminho e a solução

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